quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Também fui palhaço

Também fui palhaço


Quando criança
adorava os palhaços,
ouvir aquelas gargalhadas,
o som forte das bofetadas
que me transmitiam alegria e me faziam viver,
por momentos, no mundo da fantasia!
Mas, já crescida,
como fiquei desiludida,
quando soube que aquela gargalhada,
não passava muitas vezes,
duma lágrima disfarçada...
E agora,
com a minha vida quase vivida
e matizada de cansaço,
eu percebo, como tanta vez,
eu transformei a lágrima num sorriso
e também eu fazia de palhaço!

Outono na Beira

Os lírios da minha infância

São rosas...

As margaridas que encontro no jardim

terça-feira, 16 de agosto de 2016

À minha Beira de Riba-Côa

À minha Beira de Riba-Côa


Minha Beira,
minha amiga!
Se eu fosse artista,
Pintava-te numa tela,
mas tanta, tanta beleza
nunca caberia nela!
Minha Beira,
minha amiga!
Toda bordada a granito,
com matiz de castanheiros,
ficas tão linda, tão linda,
que não precisas mais nada
para ficares enfeitada!
Minha Beira,
minha amiga!
Beijam-te a urze e a giesta,
por terem tantos ciúmes,
beijam-te a neve
e aquele frio que cresta!
Minha Beira,
minha amiga!
Onde cresce o rosmaninho,
entre fragas e na montanha altaneira,
lembro-te só com carinho,
Minha Beira,
minha amiga!

A casa onde nasci e cresci, pintada pela minha prima Ilda Rei

Flores misteriosas que contemplo nas minhas caminhadas

A alegria dos girassóis


segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Menina de cor

Menina de cor



Menina de cor
sedenta de amor,
porque não sorris?
Teus olhos tão belos
magoados,
assustados,
ávidos de esperança
como é natural
em qualquer criança!
Menina de cor,
sedenta de amor,
tua alma é branca
da cor do jasmim,
tens na tua mão
a rosa mais bela
de qualquer jardim...
Menina de cor,
sedenta de amor
o botão és tu,
que há-de florir!
Menina de cor,
sedenta de amor,
para quem o mundo parece ruir...
Se os homens quiserem 
e a mão divina,
menina de cor
sedenta de amor
tu hás-de sorrir!

Os meus cravos tonantes preferidos

Os mistérios da vida

Os mistérios da vida


Tudo na vida é mistério,
que nem o mais sábio cientista
consegue descobrir...
Mas é nesse mistério,
que reside todo o encanto
do nosso existir!
É mistério a fé,
seja qual for o deus
em que acreditamos,
mas é desse desconhecido,
que nos alimentamos!
Abençoados mistérios,
que alimentam o nosso espírito
e não queremos desvendar,
sem eles,
seria um desencanto
este mundo confuso
em que, apesar de tudo,
ainda queremos acreditar!

sábado, 13 de agosto de 2016

Os rastos da vida

Os rastos da vida


Os dias vão correndo lentamente,
deixando cada um o seu rasto,
ora suave,
impercetível, 
de felicidade,
que lembramos com saudade...
Ora uma ferida a sangrar,
que faz doer,
que o tempo se encarrega de cicatrizar
e conseguimos esquecer...
Mas, quando o rasto se transforma,
num sulco profundo,
é porque a dor que o cavou,
foi do tamanho do mundo!

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Cerejas



Limões

Abençoada liberdade

Abençoada liberdade


Era uma vez uma menina,
nascida numa aldeia serrana,
emoldurada por montanhas agrestes
onde ainda havia o lobo mau
que, esfaimado, 
descia ao povoado!
Chapinhava nos charcos de lama,
que a chuva transformava
numa piscina deslumbrante
e apanhava flores silvestres,
com um perfume inebriante!
Comia amoras das silvas, azedas
e corria por caminhos sem fim,
apanhando bugalhos,
que lhe serviam de berlinde...
Procurava todo o buraquinho
donde, com a ajuda da palhinha,
saía o negro grilinho...
Maravilhosa liberdade, de felicidade,
que só quem a viveu,
lhe dá valor e recorda com saudade!...
Pensei, pensei
e com espanto meu,
cheguei à conclusão,
que essa menina era eu!...

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Ao lar de Vale de Espinho

Ao lar de Vale de Espinho


Como quem visita um santuário,
entrei no lar da minha terra
e logo me apeteceu orar
e agradecer ao Senhor,
o bem estar e a paz que ele encerra!
Nos painéis maravilhosos que o enfeitam,
li pensamentos com um sentido tão profundo,
que me fizeram acreditar,
que um pedacinho de céu,
podemos encontrar,
neste conturbado mundo!
Revivi rostos, marcados por sulcos
de uma vida muito dura
e todos eu beijei, com enorme saudade,
a transbordar de ternura...
E lá, com os olhos carregados de emoção,
senti orgulho por ter nascido
naquela aldeia tão simples,
que tanto amo e trago no coração!

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Uma carta - Querido pai

Uma carta - Querido pai


Lembrei-me hoje de conversar contigo,
de recordar aquele teu jeito de dar,
sem nada esperar,
aquele teu humor inteligente
que fazia rir tanta gente!
Quando o pobre de ti se abeirava,
não sabias dizer não...
para ti, ele era apenas um irmão!
Alguns, ainda te recordam
e falam de ti com emoção,
sinal que, para eles,
continuas vivo no seu coração!
A terra que tanto amaste
e tudo fizeste para ajudar,
depressa te esqueceu
e nada fez para te recordar!
Mas, não tenhas pena de não ter merecido qualquer glória,
pois em tua honra erigi uma estátua,
que continua viva na minha memória!
Tinhas defeitos, como todos os mortais,
mas eu esqueci-os
e recordo apenas aqueles carinhosos beijos,
que não esquecerei jamais!
E Deus, que é infinita bondade,
decerto, soube perdoar-te
e talvez, um dia, lá no céu,
ainda me deixe abraçar-te!!

domingo, 7 de agosto de 2016

Dia de festa

Dia de festa

Aos meus alunos amigos


Nunca tive grande ambição,
pouco exigi da vida
além de saúde, paz e alegria
e, porque não dizer,
de amor repleto o coração!
E acabei por ter, sem ter pedido e merecido,
dos meus alunos amigos
esse amor e a maior prova de gratidão!
Tanta vez errei,
tanta vez castiguei e não fui a melhor nesses momentos,
mas, o que eu mais queria,
era ministrar-vos ensinamentos!
Mas, posso garantir-vos que tinha por vós
o amor de mãe,
que tão depressa castiga
como dá beijos também!
E neste dia tão feliz,
que não posso descrever,
porque me assalta a emoção,
quero apenas agradecer e do fundo do coração,
 pedir o vosso perdão!...
Neste mundo conturbado,
onde se casam o ódio e a guerra
e se desprezam os melhores valores que há na terra,
eu agradeço esta festa maravilhosa,
quando a vida me foge lentamente,
mas que o vosso gesto de carinho,
a irá prolongar, 
e irei ser jovem novamente!!




sábado, 6 de agosto de 2016

O Natal da minha infância

O Natal da minha infância


Tenho saudades
do Natal do meu tempo de criança,
do cheiro a musgo,
da neve regelada
e sobretudo do Menino Jesus,
em que eu acreditava!
Não havia Pai Natal,
nem brinquedos luxuosos,
não havia luzes a brilhar,
mas havia a lareira a crepitar
e fritos deliciosos!
Eu, até fui afortunada,
pois recebi sempre uma boneca,
que me deixava encantada...
Mas, nesse tempo, 
para alguns, o Deus Menino era pobrezinho
e deixava apenas uns tostões e uma laranja no seu sapatinho!
Mas a magia de acreditar,
que vinham do céu e tudo era verdade,
dava àqueles meninos,
a maior felicidade!

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

À minha aldeia (Vale de Espinho)

À minha aldeia (Vale de Espinho)


Minha velha aldeia, como estás diferente!
As tuas casinhas, outrora de pedra escura,
São hoje quase palácios de cores berrantes,
que alegram os olhos dos teus visitantes
e são o orgulho dos teus emigrantes!
Minha velha aldeia, como estás diferente!
Pelas tuas calçadas, quelhinhas, vielas,
passa pouca gente
e ecoam saudades dos que já partiram
e tantas, tantas vezes palmilharam nelas!...
Minha velha aldeia, como estás diferente!
Conservas ainda o teu lindo Coa, tua boa gente
e o teu campanário,
com o mesmo sino a repicar contente,
em dias de festa
e com som dolente de arrepiar,
quando alguém, para sempre
nos vai deixar!
Minha velha aldeia, como estás diferente!
Mais vistosa, mais enriquecida,
mas deixa-me lembrar-te ainda
como antigamente!

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

O professor é um escultor

O professor é um escultor


Já pensaste, professor,
que, se quiseres,
podes ser o mais exímio escultor?
Podes modelar,
podes esculpir,
modificar,
aperfeiçoar,
apenas com o teu saber,
o teu querer,
e aquela forma de amar!
Oxalá, ao olhares com orgulho
a tua obra,
possas dizer:
-obrigada, Senhor,
por me teres dado a oportunidade
e a vontade ,
para que eu pudesse ser 
aquele escultor,
a quem todos chamam professor!


quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Retorno à minha aldeia

Retorno à minha aldeia


Quando te visitei,
banhava-te ainda o sol morno de outono,
que tornava mais alegres as tuas casas,
outrora negras e agora coloridas,
onde nasceram e viveram,
tantas, tantas vidas!...
Percorri todas as calçadas
e elas sorriram para mim,
e, por voltar a pisá-las,
todas mostraram sentir
uma alegria sem fim...
Ali, era o forno do Rossio,
mais além, o do Senhor,
donde saía o centeio quente,
que era o sustento da tua boa gente!...
Vi casas lindas, de côr,
na Barreira, dantes pobrezinha,
e que alegria Deus meu,
quando olhei e vi a mesma "Fontaínha"!
A escola, onde o primeiro exame fiz, 
já não existe,
mas sai ainda fresquinha a água que eu bebia,
no vetusto chafariz!...
Transportou-me à minha infância,
o toque das Trindades, que alegre recordei!
E logo ali recolhida e deveras comovida,
a Avé Maria rezei...
Para a minha terra também eu sorri
e abracei-a com ternura
e, nesse abraço,
vai a minha gratidão,
por me ter dado a alegria de tanta recordação!!
É esse Vale de Espinho, 
onde estão os que me amaram,
a minha infância e a minha mocidade,
que recordo com amor e a mais profunda saudade!...
 

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Galinha de campo, não quer capoeira

Galinha de campo, não quer capoeira


Vou todos os dias,
ao solar do parque, muito cedo,
com um cheirinho a madrugada
e a relva verde orvalhada,
e sorvo aquele ar puro das árvores,
qual elixir,
que alivia qualquer alma sofrida ou magoada!
A sinfonia dos melros e rouxinóis,
transmite-me aquela paz,
que todos desejamos
e julgo que só no céu
a encontramos!
Obrigada, solar do parque,
que me deixas ouvir a voz do silêncio,
ler com sofreguidão
e não sentir a solidão.
Como nasci e cresci,
numa casa rodeada de árvores,
flores e muita verdura,
lá na minha Beira,
eis a razão,
porque galinha de campo não quer capoeira!