quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

No barco da vida

No barco da vida


Navego há oitenta anos,
num barquinho frágil,
que conseguiu resistir
a vagas alterosas,
num mar por vezes tão calmo,
tão belo,
como um jardim de rosas!
A viagem foi longa,
está quase a terminar
com o barquinho a estilhaçar,
mas que eu vou consertar,
para que,
com os meus dois amores,
ainda muitos anos,
consiga navegar...

sábado, 10 de novembro de 2018

Cheguei ao inverno da vida

Cheguei ao inverno da vida


Cheguei ao inverno da vida
e aquela folha de outono amarelada,
com o frio, a chuva e a geada,
começa a ficar encarquilhada!
Eu fico triste,
mas não desanimada,
porque o sol de inverno,
também aquece
e, como por magia,
dentro de mim,
por vezes,
uma florinha de primavera,
ainda floresce!...

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Gosto de ser octogenária

Gosto de ser octogenária


Vestidos coloridos,
menineiros, 
lábios pintados,
olhos riscados,
saltos altaneiros!...
Olho para o espelho
e digo,
em jeito de brincadeira:
- Vai para a rua
e não te importes,
que te chamem,
velha gaiteira!
Mesmo vendo
o prenúncio
duma idade avançada,
esta octogenária
não fica desanimada,
porque ainda gosta de amar,
abraçar, sorrir
e, sobretudo, 
tanta gente ajudar!...

sábado, 6 de outubro de 2018

Cheguei aos 80

Cheguei aos 80


Cheguei aos oitenta,
que felicidade!
Mesmo saltando obstáculos,
montanhas, que me fizeram sofrer,
mas, também,
com jardins floridos,
regados com alegrias,
dos que me amaram
e me deram força,
para tanto tempo viver!...
Só tenho pena,
quando oiço alguém,
talvez sem maldade,
mas irresponsabilidade:
- Já morreu aos oitenta,
que linda idade!
Ninguém é velho, mesmo aos cem,
quando na sua mente,
há um pedacinho de juventude,
de inteligência!
Mais devagar,
menos sagaz,
mas muito capaz
de tanta lição bonita,
nos poder ensinar!...

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Verões quentes em Vale de Espinho

Verões quentes em Vale de Espinho


Veio-me à memória, nesta época de um calor infernal, o verão tórrido na minha aldeia, lá na Beira, quando eu era criança. Cada qual se defendia como podia e inventava-se o ar condicionado, por nós tão apreciado. Mudava-se a cozinha para as "lojas", quase sempre térreas, que se "bachicavam", constantemente, com água fresca e nos dava uma sensação de frescura inacreditável!
Ainda agora, sinto aquele cheiro a terra molhada quando visitava uma amiga e nunca me apetecia voltar para casa, embora nós também fizéssemos a vida, durante o dia, na adega de cimento, mais fresquinha.
Lá fora, parecia uma fogueira e o ar lançava uma labareda, uma autêntica língua de fogo que queimava!
Nós, as crianças, logo que a tarde chegava, íamos para a Fonte Grande chapinhar naquela água gélida, que também servia de frigorífico, onde refrescávamos a água e os refrescos de café ou limão que substituíam os gelados a que, na altura, não tínhamos acesso...

A maldade dos homens

A maldade dos homens


Olho a televisão
e só vejo corpos destroçados,
crianças de olhos vidrados,
sem vida,
onde o sonho se apagou
com o ódio dos homens cruéis,
sem coração!
Caem-me lágrimas,
de revolta,
que não consigo controlar...
E pergunto ao meu deus,
em que quero acreditar,
por quê os teus poderes infinitos já perdeste?
Ou então, meu deus,
por que te escondeste?

sábado, 21 de julho de 2018

80 anos

80 anos


Uma quinta enorme,
que eu cultivei
e dividi em talhões,
quase todos
em forma de corações!
Num talhão plantei flores,
muitas flores coloridas,
lembrando as horas felizes
por mim vividas!...
Logo a seguir,
um relvado verde,
cor da esperança
e muitos botões de rosa
lembrando as crianças,
que desabrochei
e também amei...
Rosas brancas, tristes,
salpicadas de lágrimas
pelos que me amaram
e vi morrer,
mas que a saudade
não deixou esquecer...
Mas, num talhão negro,
cor do carvão,
nada plantei,
porque a terra não prestava,
cheia de pedras
insufladas de ingratidão!!
Ficou um talhão vazio,
sem nada plantar,
espero que deus me deixe viver,
uns tempinhos,
para muito amor,
ainda poder semear!...

domingo, 3 de junho de 2018

Na praia deserta

Na praia deserta


Procuro a paz
tão desejada,
nesta praia deserta
em que tudo dorme,
porque é quase de madrugada...
O mar sereno,
beijando a areia
com tanto carinho,
faz-me inveja
e transmite-me
aquela serenidade
tão ansiada,
que logo se esvai
como a água do mar 
na areia,
por ela beijada!

Só, a olhar o mar

Só, a olhar o mar


Vim fazer companhia
à solidão,
tendo à minha frente
o mar sereno!
Parece que sorri
e quer falar,
em jeito de oração...
Vim fazer companhia
à solidão
e o sol a olhar-me
com ternura,
vem aquecer o meu coração
e também ele,
a fazer companhia
à minha solidão!

sábado, 2 de junho de 2018

É abril

É abril



Que linda manhã de abril!
Cheira a madressilvas,
a rosas,
a jasmim
e sinto toda a primavera
dentro de mim!
Riem as fontes,
as nascentes,
com o brilho do sol,
que as visita...
Saltam as crianças
na relva apetecida,
renasce na terra,
o que estava morto
e, por todo o lado,
há vida, muita vida!

A caminho da serra

A caminho da serra


Lá, naquela montanha,
que avisto ao longe,
gigantesca catedral
esculpida pelo cinzel divino,
adivinha-se
uma paz celestial...
E nessa catedral
a tocar o firmamento,
eu queria entrar,
apenas uma vez
para me dar conta afinal,
quão insignificante,
é a minha pequenez!...

sábado, 5 de maio de 2018

Chegou a primavera

Chegou a primavera


Já paira no ar
um perfume a madressilva
e a jasmim,
porque a primavera
chegou, enfim,
e plantou em todos os campos
o mais belo jardim...
São os malmequeres,
salpicando os relvados
com toda a pujança,
aquele verde,
que dizem ser a cor da esperança,
que todos desejamos
e esperamos...
São as andorinhas,
vestidas de luto
mas com um chilrear
muito alegre,
que nos acorda de manhã
com o sol a nascer,
para nos mostrar
que continuamos a viver!
Quem dera,
fosse a nossa vida
sempre florida
e, para sempre. uma eterna primavera...

domingo, 8 de abril de 2018

A correria do tempo

A correria do tempo


Nesta correria,
em que vivemos,
passa-nos ao lado
tanta beleza,
que a vida nos oferece...
Seja um campo verde,
de malmequeres salpicado,
seja o olhar,
de uma velhinha,
sem brilho,
cheio de tristeza,
mas que ainda sabe amar...
Por que será,
que não paramos,
que não olhamos
e damos graças ao criador,
por nos deixar,
tão grande legado,
onde o melhor tesouro,
é o amor,
por vezes tão desprezado!

terça-feira, 3 de abril de 2018

A herança

A herança


Quero deixar-te
um tesouro,
uma fortuna,
não de moedas de ouro,
mas um legado,
que tu, num cantinho
do teu coração,
possas ter guardado!
São quintas cultivadas
de amor,
onde crescem também
plantas perfumadas...
E esse perfume,
feito de saudade,
não deixará murchar
essas flores,
que irão chegar fresquinhas,
até à eternidade!

sábado, 17 de março de 2018

Não sei o que procuro

Não sei o que procuro


Não sei o que procuro,
só sei que corro
o mundo inteiro,
de olhos fechados
sem dormir
e só encontro desilusões,
sorrisos disfarçados!
Não sei o que procuro,
talvez carinhos,
verdades, sorrisos,
envoltos em abraços,
muito apertados...
Só sei, que encontro
carinho e verdades,
nos que me amam
e, sem pedir,
me dão esses abraços
apertados, a sorrir!

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Ver-te diferente

Ver-te diferente


Passei por ti
e não quis parar,
com medo que as lágrimas
se soltassem
e, com desgosto,
quisesse gritar!
Em vez daquele branco,
que te distinguia
naquele cenário beirão,
vi pedras escuras
nas tuas paredes
e daquela cor negra e triste,
ficou ,de repente,
o meu coração!
Apeteceu-me ser  mágica,
e logo a tua cor mudar!
Mas, ao virar as costas,
prometi a mim mesma,
à minha terra voltar,
mas para ti não olhar!

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

À inveja

 À inveja


Ai se eu pudesse
matar esse vírus maligno,
que destrói,
que corrói,
não me importava,
que me chamassem assassino...
E por ter dó
de todo o ser humano,
onde prolifera sentimento
tão mesquinho,
eu pediria a Deus,
todo poderoso,
a cura dessa doença
e o perdão
para todo o invejoso!

Saudade

Saudade


Dizem que o regresso
às origens,
é sinal de muita idade,
mas eu creio
e com razão,
que é apenas saudade!
Saudade do chão
que pisámos,
do ar que respirámos,
do colo que nos acalentou
e até daquela solidão,
que nos obrigou a lutar,
a meditar
e a ser um bom cristão!...

A infância perdida

A infância perdida


Procuro muitas vezes
no passado,
uma recordação feliz,
uma lembrança,
porém, só me vem ao pensamento,
tudo o que para mim,
foi sofrimento...
Mas rebuscando bem
na minha mente,
com perseverança,
dessa infância já esquecida,
no tempo já perdida,
nem me recordo já,
que fui criança!